A dor de cabeça é um dos sintomas mais comuns nos consultórios médicos. Embora, na maioria das vezes, não esteja relacionada a doenças graves, há casos em que a dor pode ser o sinal de algo mais sério. Um desses casos é a Hipertensão Intracraniana Idiopática (HII) — uma condição neurológica que merece atenção, diagnóstico preciso e acompanhamento adequado.


O que é a HII?

A Hipertensão Intracraniana Idiopática (HII), também conhecida como pseudotumor cerebral, é uma condição caracterizada pelo aumento da pressão dentro do crânio, sem uma causa estrutural identificável, como tumores, infecções ou sangramentos.

Embora o nome possa assustar, trata-se de uma condição tratável. No entanto, se não for diagnosticada corretamente, pode levar a complicações importantes, principalmente relacionadas à visão.


Como funciona a dinâmica do líquor e por que ela importa?

Nosso cérebro e medula espinhal são banhados por um fluido chamado líquido cefalorraquidiano (LCR), ou simplesmente líquor. Esse líquido é produzido continuamente dentro do cérebro e tem várias funções importantes:

  • Proteger o sistema nervoso central contra impactos;
  • Nutrir o tecido cerebral;
  • Remover resíduos metabólicos;
  • Ajudar a manter a pressão estável dentro do crânio.

Em condições normais, o líquor é produzido e reabsorvido de forma equilibrada. Na HII, acredita-se que haja uma alteração nesse equilíbrio, resultando em acúmulo de líquor e aumento da pressão intracraniana.

Ainda não se sabe exatamente por que isso acontece, mas diversos estudos mostram uma forte associação com o ganho de peso, especialmente em mulheres jovens com sobrepeso ou obesidade — o perfil mais comum entre os pacientes com essa condição.


Sintomas: muito além da dor de cabeça

A dor de cabeça na HII costuma ser diária, intensa e difusa, muitas vezes piorando ao deitar, tossir ou realizar esforços. Mas o que realmente chama atenção é que esses pacientes frequentemente apresentam sintomas visuais, como:

  • Visão embaçada ou dupla;
  • Episódios de escurecimento da visão, especialmente ao mudar de posição;
  • Presença de “manchas” ou luzes no campo visual;
  • Zumbido pulsátil (batimento nos ouvidos);
  • Náuseas e vômitos.

Esses sintomas acontecem porque a pressão aumentada afeta o nervo óptico, causando o chamado edema de papila — um inchaço visível ao exame de fundo de olho.


Por que é tão importante um diagnóstico correto?

Por sua apresentação com dor de cabeça crônica, a HII pode ser facilmente confundida com enxaqueca ou cefaleia tensional — levando a diagnósticos errados e atrasos no tratamento adequado. O uso de medicamentos para enxaqueca não trata a causa real da HII e pode até piorar a condição se a pressão continuar aumentando.

Por isso, é fundamental buscar avaliação com um neurologista, que saberá investigar a fundo, pedindo exames como:

  • Ressonância magnética do crânio, para descartar outras causas;
  • Punção lombar, que permite medir diretamente a pressão do líquor;
  • Avaliação oftalmológica com fundo de olho.


E depois do diagnóstico? O acompanhamento é essencial

Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento costuma envolver mudança no estilo de vida — principalmente com perda de peso, que muitas vezes resulta em melhora ou até remissão dos sintomas.

Além disso, podem ser utilizados medicamentos como a acetazolamida, que ajuda a reduzir a produção de líquor. Em casos mais graves ou resistentes, pode ser necessário um procedimento cirúrgico para aliviar a pressão.

Mas mesmo após o início do tratamento, o seguimento regular é fundamental — sendo realizado em conjunto entre neurologista e oftalmologista. Como a visão é uma das funções mais ameaçadas pela HII, é necessário realizar exames periódicos, especialmente:

  • Fundo de olho, para monitorar a alteração do nervo óptico;
  • Campimetria visual, que avalia o campo visual e detecta perdas que podem passar despercebidas no dia a dia.

Esses exames ajudam a monitorar a eficácia do tratamento e prevenir sequelas permanentes.


Conclusão

A Hipertensão Intracraniana Idiopática é uma condição que exige atenção e cuidado. Embora não seja comum, é uma causa importante de dor de cabeça crônica com risco à visão, principalmente em mulheres jovens e acima do peso.

O diagnóstico precoce e o acompanhamento contínuo são fundamentais para evitar complicações. Se você tem dores de cabeça persistentes associadas a alterações visuais ou outros sintomas incomuns, não ignore — procure um neurologista. Informação e atenção podem fazer toda a diferença.


Dr. Júnior Vasconcelos
Neurologista – CRM 219464 | RQE 124426
Especialista no diagnóstico e tratamento de dores de cabeça